Descubra o verdadeiro significado de seus sonhos

Se você, até o presente momento, já interpretou alguns de seus sonhos como uma tenebrosa premonição ou uma fantástica adivinhação do que está por vir, certamente, você já deve ter chegado à intrigante conclusão de que, ao que tudo parece, você possui algum “dom” especial! Dom esse que parece não estar presente nos demais, no grosso das pessoas que você conhece, que não têm a capacidade de prever o futuro e receber mensagens místicas enquanto dormem ou divagam em sonhos, como você.

Diante dessa situação, de duas, uma.

Ou você se convence que faz parte de uma casta de pessoas especiais abençoadas com essa bola de cristal magicamente instalada em você – algumas delas aproveitam para fazer fortuna com esse tal dom) ou você faz parte de outra casta, a amaldiçoada, que se tornando-se mensageiro/a mensagens desagradáveis ou trágicas do “além”.

Neste caso, longe de lhe trazer fortunas, o tal dom lhe causa problemas de relacionamentos, uma vez que é bem provável que outras pessoas farão qualquer coisa para evitar sua companhia, para não arriscar um “Ei, sonhei com você e adivinha?…”

Concretamente, o tal dom só lhe permite a façanha de adivinhar fatos, antever futuro imediato ou rever passado, sempre envolvo no véu do divino, do misterioso, pois você não consegue entender como e quando isso vai acontecer. Seu dom não lhe a capacidade de sonhar quando bem desejar ou necessitar, tampouco com quem ou que sonhar. Você não tem, pois, controle sobre essa façanha, o dom.

Em se tratando de sonhos, sejam eles simples, engenhosos ou megalomaníacos, a tendência é que as pessoas se apeguem tão-somente à interpretação deles em si, atendo-se apenas ao seu conteúdo manifesto – e, obviamente, quando não se trata de mensagem profética, o sonho acaba não merecendo maior atenção.

E, em se tratando de algo sinistro, causa angústia e sensação de vulnerabilidade, de temor pelo próprio dom de sonhar, pois não há nenhum controle consciente sobre o que virá a seguir, quando você for sonhar. Não dá para dizer: “Agora vou dormir e sonhar com o que vai acontecer com Roma. Aguarde!”

Outra faceta não tão positiva da visão de merecimento para (entendimento) os sonhos é o fato de que a pessoa que sonhou acaba perdendo uma excelente oportunidade de autoconhecimento, por não atentar para o que verdadeiramente há de revelação neles. Afinal, “quem consegue interpretar os próprios sonhos, possui uma chave mágica para a descoberta de si mesmo: a via régia para o inconsciente” (1).

“O sonho é a estrada real que conduz ao inconsciente”

Sigmund Freud (1856-1939) entrou para a história das ciências humanas e das ciências de saúde quando apontou que “o eu não é senhor em sua própria morada”, a mente é ser dividido em diversas partes e que, uma parte importante dessa divisão é o inconsciente. E assim que ele lançou as bases de uma nova ciência e de um método para tratar pacientes neuropatológicos, que recebeu o nome de Psicanálise, focando-se na investigação dos sintomas, ações, desejos e produções imaginárias (sonhos, fantasias, delírios) a partir da associação livre, para a interpretação do seu significado inconsciente.

Para marcar a revolução que viria a seguir, no fim do Século XIX e início do Século XX, o neurocientista apresentou ao mundo, em 1900, sua obra “A Interpretação dos sonhos”.

Com essa publicação, Freud mostrou ao mundo das ciências e ao mundo inteiro que existem mais coisas em nós mesmo do que aquilo que está manifesto, visível e acessível. E que aquilo que não se vê (o inconsciente) se manifesta e se reflete em nosso cotidiano, em nossas relações intra e intrapsíquicas, em nossos desejos e em nossas ações.

Freud também iria mostrar, com a obra que marcou o século, que aquilo que está guardado no inconsciente pode ser acessado, por exemplo, pelo método da associação livre, por ele formulado para trabalhar com os conteúdos não conscientes expressos através da fala livre, dos sonhos, dos chistes, dos atos falhos e dos lapsos.

Longe de ser simples devaneio ou mensagem enigmática do além, para Freud, um sonho se constitui em um fenômeno psíquico de grande importância para acessar o inconsciente do/a analisando/a. Tanto assim que ele estabeleceu um prático método de interpretação dos sonhos que todos podem lançar mão para entender o verdadeiro significado de seus sonhos.

Importante salientar que, para o Pai da Psicanálise, a interpretação de um sonho é uma tarefa personalizada, que vai levar em consideração tanto os conteúdos óbvios, a narrativa da história, do sonho, tal qual é lembrada (manifesto), quanto aqueles que se apresentam de forma fantasiada e aparentemente oculta, envoltos em simbologia que requer uma análise mais atenta (latente).

A narrativa da história, o enredo do sonho, é considerada tão-somente uma fachada pra evitar o bloqueio (censura) que o superego realiza para permitir o que deve e o que não deve estar consciente. E, curiosamente, é na “fachada” que os interpretadores de sonhos de plantão e os mais desaviados se apegam, quando tratam de entender o significado de um sonho em avaliação.

Para Freud, o conteúdo latente é o que verdadeiramente significa o sonho, após ser submetido à análise consciente. É por esta razão que, na Psicanálise, o/a analista parte das associações individuais que o/a analisando/a faz de cada parte do próprio sonho, no processo de associação livre.

Como interpretar um sonho, segundo Freud

Em “Dicionário de psicanálise”, Elisabeth Roudinesco (1998), define fantasia como “a vida imaginária do sujeito e a maneira como este representa para si mesmo sua história ou a história de suas origens”. (2) Ou seja, fantasia, no campo da psicanálise, é uma situação imaginada por uma pessoa ou por um grupo que expressa certos desejos ou objetivos por parte do seu criador/paciente (3).

Assim, analisando detalhadamente o conteúdo latente dos nossos sonhos como fenômenos psíquicos, interpretando a simbologia dos elementos apresentados, podemos encontrar o real significado de tais sonhos, o que as fantasias envoltas em símbolos estão manifestando para nós mesmos, que desejos reprimidos nosso inconsciente está buscando revelar ou realizar.

Cientes dessas importantes observações, podemos empreender a aventura de enveredar pela reveladora ação de interpretação do que está simbolizado em cada um dos nossos sonhos, e de quebra, descobrir, conhecer um pouco sobre nós mesmos, nossos desejos mais íntimos.

Siga o mapa da interpretação dos sonhos, segundo a essência do método freudiano:

Seguindo esse verdadeiro “mapa” para interpretar seus sonhos, com certeza, você vai chegar à conclusão de que não se trata de coisa de outro mundo!

Referências Bibliográficas

• ROUDINESCO, Elisabeth. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

• Fantasia para a psicanálise. MÓDULO 08 – SONHOS E REPRESENTAÇÕES – pág. 03. Curso de Formação em Psicanálise Clínica. 2022. Disponível em: https://www.psicanaliseclinica.com. Acesso em 10/06/2022.