A Sessão Psicanalítica na Prática

Para quem não tem a menor ideia de como fazer um (tratamento) psicanálise ou se a única ideia que se tem de uma consulta ao analista é aquela trazida pelo cinema de um paciente quase inerte no divã e um terapeuta mais inerte ainda, sentado ao seu lado, talvez seja muito elucidativo saber um pouco mais sobre como, concretamente, se desenvolve uma sessão de análise, na prática.

Você pode ter certeza que uma sessão de psicoterapia jamais será tão passiva quanto tal imagem. Isso, na verdade, é tão-somente um recorte de um momento cinematográfico que pode sim acontecer – o silêncio do paciente e o silêncio do terapeuta – e, esse momento, por si só, já obriga a alguma ação por parte de um (terapeuta) ou de ambos.

Uma terapia psicanalítica é, por sua própria natureza, interativa.
Uma sessão de terapia é, portanto, proativa. O fim maior de sua realização é que o analisando seja ajudado no seu complexo processo de busca das respostas para seus sintomas, suas angústias, medos, tudo aquilo que esteja causando desequilíbrio da sua energia mental e cujo incômodo, desconforto ou sofrimento o levaram até ali.

De forma que, em caso de um paciente estar muito cansado, fisicamente, melhor que descanse um pouco antes de sua consulta para ter condições de ajudar ao terapeuta a ajudá-lo. (Já se estiver muito cansado da vida em si, não há que esperar mais nem um momento para iniciar seu tratamento!)

A psicanálise é a psicoterapia que é tipicamente conduzida com o paciente (analisando ou analisanda) deitado em um divã (também pode ser uma cadeira ou sofá confortável o bastante para promover relaxamento) e o analista preparado para dar-lhe atenção terapêutica (reserva e discrição, contudo, uma escuta ativa, observação diligente para tudo que está acontecendo na cena) com empatia e interesse, sem julgamento).

A Psicanálise é um intenso processo interativo de comunicação

A essência do setting terapêutico é a realização de um ato de comunicação (verbal ou não) do qual participam psicanalista e psicanalisando, em Aliança terapêutica, levando em consideração de que se trata de uma ciência hermenêutica, de um método de intepretação de conteúdos inconscientes, em busca de significados de sua manifestação.

O psicanalista convida o/a psicanalisando a falar livremente o que lhe vier à mente, sem autocensura, e presta atenção ao conteúdo e às linhas emocionais do pensamento, associações, sonhos e lapsos de linguagem, tudo o que é expressado e que ajudam a fazer conexões com o passado, com eventos dos quais o/a psicanalisando pode não estar conscientemente ciente.

Ainda que existem muitas variações no processo de realização de uma sessão de terapia, normalmente, o psicanalista ouvirá e observará atentamente seu/sua psicanalisando/a em seu processo de fala de Associação Livre. Essas associações, juntamente com o material dos sonhos, ajudam a desvendar os desejos e medos mais profundos desse psicanalisando/a, e, por meio das interpretações, a entender o que até então inconsciente para ele/ela.

Nesse processo, que é facilitado pelo par analítico, o psicanalista faz comentários empáticos, compartilha impressões, aporta interpretações (não julgamentos, juízos de valores) e encoraja o psicanalisando a explorar os significados daquilo que foi expressão livremente, por seus sonhos, emoções e pensamentos e busca fazer compreender as conexões entre comentários, sentimentos ou ações que surgir.

Estes, então, emergem no tratamento como manifestações transferenciais, nas quais há uma revivescência e reelaboração de necessidades anteriores, traumas não resolvidos, conflitos e privações. Há uma elucidação e elaboração de defesas e adaptações patológicas que levam a novas e construtivas adaptações à vida.

A psicoterapia também ajuda o psicanalisando a identificar e superar resistências, fazendo a exploração analítica interpretativa desses significados. Este processo continua, com o objetivo de ajudando o analisando a ter uma percepção cada vez maior da forma como a mente e as emoções operam juntos.

É, pois, um processo interativo de comunicação, no qual emissor e receptor alternam de posições constantemente, até que a mensagem (os conteúdos recalcados no inconsciente), por fim, seja interpretada e compreendida também pelo psicanalisando, que obtém, assim, mais ferramentas para o autoconhecimento, entendendo o que lhe passa e porque responde a isso como responde.

A Psicanálise não trabalha com promessas de cura

Ainda que o motivo de se procurar por um tratamento psicanalítico seja, por exemplo, uma angústia ou uma fobia paralisante ou quaisquer outros sintomas que estejam causando dor e sofrimento psíquico, é preciso ter em mente que a terapia não tem a possibilidade de proporcionar resultados de imediato.
Dentro da Ética da Psicanalise, importante dizer, deve-se inclusive evitar promessas de cura e investir na capacidade e desejo do psicanalisando de promover seu autoconhecimento, esse, sim, poderá ensejar “cura” para seus problemas.

Entretanto, indubitavelmente, fazer análise irá promover bem-estar psíquico e aumentará a autocompreensão do/a psicanalisando/a. Sigmund Freud (1856-1939) acreditava, desde os primeiros tempos de trabalho com análise clínica de seus pacientes, que era preciso ajudá-los a “tornar consciente aquilo que estava inconsciente” e que se manifesta em sintomas, comportamentos e situações de lapsos de comunicação, atos falhos e sonhos, causando sofrimento.

Logo, um tratamento terapêutico pautado na ciência e no método criado por Freud no fim do século XIX e início do século XX tem como característica marcante a necessidade de ser sustentado por sessões frequentes ao longo de um período de tempo, a fim de promover profundidade, intensidade e acesso a níveis mais profundos de consciência, necessidades inconscientes e impulsos.

Mesmo em tempos voláteis como os atuais, é impossível se pensar em obter benefícios sustentáveis para a saúde mental, com uma única sessão de psicanálise ou de qualquer outra psicoterapia séria.

O processo psicanalítico ajuda gradualmente o/a psicanalisando/a a desenvolver uma função aprimorada de autorreflexão, alcançar uma maior sensação de maestria e competência, adaptando-se de forma mais eficaz e progredindo no desenvolvimento de uma maior estruturação da personalidade.