As interfaces entre a insegurança alimentar e a crise climática são diversas, imbricadas e, cada vez mais, se posicionam na centralidade dos debates e dos desafios para a Saúde Pública global, especialmente por produzirem impactos mais evidentes em países e regiões onde as desigualdades históricas e estruturais são mais evidentes, como na América Latina.
Essa complexa situação que pode ser melhor compreendida através do conceito de sindemia, que se refere à interação entre múltiplas epidemias que afetam uma população, ao mesmo tempo e no mesmo local, alimentando-se, agravando-se e criando um cenário desafiador para os serviços, programas e sistemas de saúde nos níveis local, regional e/ou global.
Compreender as interfaces entre as crises alimentar e climática em um quadro sindêmico global centra a atenção na escala e na urgência de enfrentar estes desafios, de forma abrangente e articulada, enfatizando a necessidade de organizar esforços em torno de soluções comuns, contribuindo para o fortalecimento de capacidades locais, comprometidas com a garantia da segurança e da soberania alimentar e regidas pelos princípios inegociáveis da dignidade humana e do respeito às pessoas e a sua sabedoria.
Motivados pela necessidade de gerar evidências dessa “crise de crises”, com o objetivo de subsidiar estratégias de enfrentamento de suas consequências junto a setores de governo e da sociedade civil organizada, um grupo de aproximadamente 80 pesquisadores, vinculados a 24 instituições acadêmicas com sede em 11 países da América Latina, decidiu se unir para debater o assunto.
Panorama das crises alimentar e climática na América Latina
Foi criado, então, o Grupo de Estudos sobre Sistemas Alimentares Latino-americanos no marco da Mudança Global – SALA Global, cuja primeira iniciativa foi elaborar um panorama das crises alimentar e climática na região, resultando no na produção e publicação do livro Inseguridad Alimentaria y Emergencia Climática: sindemia global y um desafío de Salud Pública en América Latina (Insegurança Alimentar e Emergência Climática: sindemia global e um desafio de Saúde Pública na América Latina).
Lançada em formato ebook em setembro (2023), a obra foi organizada pelos pesquisadores Ana Laura Brandão, Juliana Pereira Casemiro e Frederico Peres (da Escola Nacional de Saúde Pública – Ensp/Fiocruz) e a professora Juliana Casemiro, do Instituto de Nutrição da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Contando com experiências de nove dos 11 países representados no Grupo SALA Global, e com participação de 43 autores, o livro (Editora Rede Unida) traz ainda reflexões teórico-conjunturais sobre os impactos das crises alimentar e climática sobre a Saúde Pública na América Latina, bem como apresenta algumas estratégias de enfrentamento possíveis.
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Entre as estratégias de enfrentamento, um capítulo, escrito pelo diretor da Ensp/Fiocruz, Marco Menezes, em colaboração com o pesquisador do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh) da Ensp/Fiocruz, Frederico Peres, aponta para o papel estratégico das Escolas de Saúde Pública da região na organização de capacidades para se antecipar aos impactos da “crise de crises”.
Assim como para o papel de mitigar seus efeitos negativos que, a cada ano, impactam de maneira crescente os serviços, programas e sistemas de saúde da região.
Estratégias de enfrentamento das crises alimentaria e climática
Dividido em três partes, o livro dedica sua terceira parte à abordagem e exemplificação de estratégias de enfrentamento das “crise das crises” que vem sendo adotadas pelos países participantes do livro, como Chile, Peru, Argentina e Brasil.
É importante destacar que, no mundo pós COVID-19 e suas sequelas, o combate à fome, a garantia da saúde, proteção ambiental, promoção da educação e desenvolvimento científico e tecnológico, entre outras questões estratégicas para o desenvolvimento sócio-sanitário regional, retornem como questões prioritárias à agenda do governos guiados pelo pensamento progressista em vários países do região, como Brasil, Chile e Argentina.
Ainda, de acordo com os pesquisadores, ações estratégicas, como o combate às alterações climáticas, a preservação da Amazônia, a proteção dos povos indígenas e o fortalecimento dos sistemas de saúde juntamente com a ciência e a tecnologia, passam aparecer como elementos centrais nos planos de orientação desses governos que, nos últimos anos, experimentaram retrocessos significativos na sua desenvolvimento social e garantia dos direitos mais básicos do cidadão.
![Marina Silva (Ministério do Meio Ambiente) e Sônia Guajajara (Ministério dos Povos Indígenas)](https://i0.wp.com/goeie.life/wp-content/uploads/2023/11/Marina-Silva-Ministerio-do-Meio-Ambiente-e-Sonia-Guajajara-Ministerio-dos-Povos-Indigenas.jpeg?resize=768%2C512&ssl=1)
Dentre os destacáveis exemplos, a obra cita o caso do Brasil e a criação do Ministério dos Povos Indígenas, comandado por Sonia Guajajara, importante liderança da articulação dos povos indígenas no país e da reestruturação do Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Clima, comandado por Marina Silva, referência mundial na luta pelo a preservação da Amazônia, de seu povo e da biodiversidade.
Sua designação como ministro tem sido fortemente comemorado por aqueles que desejam O retorno do Brasil ao multilateralismo climático, a promoção da justiça ambiental e enfrentando o racismo ambiental.
Para baixar a obra em sua versão e-book gratuitamente (formatos pdf e epub), clique no link abaixo:
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