A cada 15 horas no Brasil, uma denúncia de intolerância religiosa

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Levantamento do Ministério dos Direitos Humanos vai de janeiro de 2015 ao primeiro semestre deste ano; Estados de São Paulo, Rio e Minas Gerais lideram casos. Dados, porém, são subnotificados porque muitas vítimas ainda têm medo de denunciar

Templos são invadidos e profanados. Em outros casos, há agressões verbais, destruição de imagens sacras e até ataques incendiários ou tentativas de homicídio. O cenário preocupa adeptos de diversas religiões e, em pelo menos oito Estados, o Ministério Público investiga ocorrências recentes de intolerância. Entre janeiro de 2015 e o primeiro semestre deste ano, o Brasil registrou uma denúncia a cada 15 horas, mostram dados do Ministério dos Direitos Humanos (MDH).

Segundo levantamento da pasta, o Disque 100, canal que reúne denúncias, recebeu 1.486 relatos de discriminação religiosa no período, de xingamentos a medidas de órgãos públicos que violam a liberdade religiosa. “E sempre há mais casos do que os relatados”, explica Fabiano de Souza Lima, coordenador-geral do Disque 100. “A subnotificação é alta, considerando o cenário nacional”, diz. “Algumas pessoas não querem se envolver e preferem permanecer no anonimato a denunciar.”

Só neste ano foram registrados 169 casos: 35 em São Paulo, 33 no Rio e 14 em Minas, Estados com maior número de ocorrências informadas. Comparado ao mesmo período de 2016, haveria recuo de 55%, mas Lima explica que a oscilação de denúncias não reflete a realidade.

Discurso de Ódio

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Disque 100 registrou 1.988 denúncias de discriminação religiosa no País desde 2011.

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Religião das vítimas – número de casos (2017)

 

Umbanda

Candomblé

Matrizes africanas

Católica

Evangélica

Espírita

Judaísmo

Ateu

Assembléia de Deus

Adventista do Sétimo Dia

 

26

22

18

17

14

8

6

2

2

2

Universal do Reino de Deus

Testemunha de Jeová

Presbiteriana

Muçulmana

Maranata pentecostal

Kardecista

Igreja adventista

Cristã maranata

Não informada

1

1

1

1

1

1

1

1

44

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Fonte: Ministério dos Direitos Humanos

A maioria das vítimas de intolerância é de religiões de origem africana

“Quando você vir um número maior em um ano, é certo que houve divulgação do problema, por meio de campanhas.” Um exemplo, diz, é que em 2016, ano da campanha nacional Filhos do Brasil, houve registro recorde de 759 casos.

Aumento. Em agosto, a Paróquia Nossa Senhora do Bom Parto, em Santo André, no ABC paulista, foi invadida. Os suspeitos arrombaram o sacrário, furtaram a âmbula e atiraram hóstias no chão. “Para nós, a eucaristia é o mais sagrado: o corpo de Cristo. Houve profanação”, diz o padre Renato Fernandez. Para ele, a sensação é de aumento das ocorrências. “No passado, havia um respeito pelos templos e pela Igreja”, afirma. “Deixar a eucaristia jogada diz que, para eles, não significa nada.”

A análise de 2017 aponta que a maioria das vítimas de intolerância é de religiões de origem africana, com 39% das denúncias. Lideram o ranking umbanda (26 casos), candomblé (22) e as chamadas matrizes africanas (18). Depois, vêm a católica (17) e a evangélica (14).

Recentemente, um templo de candomblé foi incendiado em Jundiaí, na Grande São Paulo. O ataque destruiu 80% da casa, além de equipamentos e instrumentos musicais, mas não impediu a mãe de santo Rosana dos Santos, a Iya Abayomi Rosana, de continuar o ofício religioso. “Agora, coloco uma mesa embaixo de uma árvore, ao lado dos escombros, e atendo lá”, afirma. “A fé cabe em qualquer lugar, pois Deus e os orixás estão em toda parte.”

O templo funcionava havia dez anos e nunca havia registrado ameaça. “Não foi nada pessoal, foi contra nossa religião, de matriz africana”, diz ela, que trabalha para reconstruir o lugar. “Era solo sagrado, existiu muito amor lá.”

Intolerância é resultado da “dificuldade de conviver com a diversidade”

Líder do Brasil Contra a Intolerância Religiosa, Diego Montone critica a ausência de legislação específica. “Temos de nos basear criminalmente e até civilmente em outros crimes.”

Cláudio Bertolli Filho, antropólogo da Universidade Estadual Paulista (Unesp), diz que a intolerância é resultado da “dificuldade de conviver com a diversidade”. “A forma viável de as religiões conviverem pacificamente é todas elas assumirem que não existe religião verdadeira ou religião falsa.”

Para o antropólogo João Baptista, professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), uma religião “pode ser intolerante porque quer dominar ou porque é vítima da intolerância”. Ela se torna intolerante, segundo ele, “porque se fecha sobre si mesma”.

Entre os suspeitos identificados pelo MDH em 2017, a maioria é mulher. Um caso recente foi o da pastora Zélia Ribeiro, da igreja evangélica Razão do Viver, de Botucatu, flagrada destruindo imagens de Nossa Senhora Aparecida a marteladas. “Já pedi desculpas. Também fui vítima da intolerância, postaram muita coisa na internet, chegaram a dizer que eu tinha morrido.”

Fonte: Felipe Resk, José Maria Tomazela e Jonathas Cotrim, O Estado de S.Paulo


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