Chávez realiza sonho de ter telenovela socialista

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A “oficialista” Televisão Venezuelana Social (TVES) foi criada em 2007, a partir da compra da Rádio Caracas Televisão (RCTV). Desde então, integra a potente maquinaria propagandística governamental, bancada permanentemente com os recursos gerados pela PDVSA (Petróleos da Venezuela), a principal e quase única fonte de riqueza nacional.

Como em tantas outras facetas da vida cotidiana, a onipresença de Hugo Chávez, caracterizada pelo ordem e comando, é mais a norma do que a exceção. Nesta ocasião, o objetivo é muito claro e assim como em Cuba, o presidente quer que sua televisão transmita telenovelas. Mas não qualquer telenovela, mas aquelas com mensagem. Para que uma telenovela que se aprecie possa ser emitida pela televisão bolivariana deve ser uma telenovela socialista, com conteúdo social: “Eu vou pedir que tenhamos telenovelas socialistas em lugar de capitalistas”.

TVES estreou “Teresa em três estações” e está a ponto de fazer o mesmo com “Guerreiras e centauros”. Estes dois produtos audiovisuais pretendem cobrir dois aspectos centrais do relato bolivariano. O primeiro busca mostrar, a partir de histórias cotidianas, os lucros da “revolução” e moralizar os costumes sociais desde o ponto de vista de três Teresas diferentes. O segundo trata-se da reescritura de uma história fundacional que ligue os atos emancipadores de Simón Bolívar com o gerenciamento libertador de Chávez através de uma série de paixões ambientadas no século XIX.

Como assinalou Delfina Catalá, a diretora de Teresa, “Vamos refletir a época que este país que se move está vivendo”. Também disse se sentir orgulhosa das profundas transformações que estão sendo realizadas na Venezuela. Desde esta perspectiva, o outro grande objetivo buscado com a emissão desta telenovela seria o adoutrinamento e a transmissão dos valores morais ligados com a construção do homem novo, segundo o modelo socialista cubano.

Portanto, estamos diante de um modelo claramente dirigista com pouco espaço para a crítica ao poder e a livre criação fora dos canones estabelecidos. Valeria a pena recordar que, para além das mudanças recentes introduzidos em Cuba, nos genes do homem novo impulsionado por Fidel Castro e Ernesto Guevara estava a condenação a rigor(com prisão  inclusa) da homossexualidade, como recorda o famoso caso de Heberto Padilla. Ou a rejeição da música dos Beatles e outros grupos similares por induzir ao consumo e a adoção de outras pautas capitalistas. No passado recente bolivariano encontramos a condenação da Barbie, ao Play Station ou ao Nintendo.

Nestas circunstâncias, o principal problema dos criadores venezuelanos será elaborar um produto capaz de ser consumido pelo público na intimidade de seus lares. Controlar o comando á distância é mais difícil do que mobilizar vontades para um ato político. A experiência dos autores bolivarianos com a moral incluída não foi exitosa. Os dois ensaios prévios, “Amores de barrio adentro” (2004), com claras alusões a uma das missões chaves da propaganda oficialista, e “Caramelo e chocolate” (2008), terminaram em rotundos fracassos.

Como recorda o jornal La Nación de Buenos Aires, a demanda pelas telenovelas nacionais aumentou depois que se censurara a “Chepe Fortuna”, uma telenovela colombiana de grande sucesso, julgada como falta de respeito para com a Venezuela. A proibição foi baseada no fato de que “Chepe Fortuna” fomentava “a intolerância política e racial, bem como a xenofobia e a apologia ao crime”. O problema estava no fato de que uma das protagonistas era uma mulher gorda, “barraqueira” e de má conduta, chamada Venezuela, que tinha um cão chamado “Huguito”, com claras alusões à realidade venezuelana.

Para além do escasso sentido do humor “oficialista”, o que mostra esta nova ofensiva publicitária do governo venezuelano é que seus dirigentes estão dispostos a levar o grande irmão de Orwell até suas últimas consequências. Não é por acaso que nos próximos meses há duas eleições de grande importância para o futuro do país.

Fonte: Infolatam

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